No experimento conhecido como Face (sigla para “Free Air Carbon Dioxide Enrichment”), que simula um aumento do dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, 135 especialistas vão analisar o efeito desta maior concentração sobre os grãos, se há aumento da densidade de pragas, ou mesmo mutações nas doenças, além de constatar se o excesso do gás de efeito estufa prejudicará o sabor da bebida.
A necessidade de descobrir tais detalhes é importante para os produtores brasileiros, já que o país é o maior produtor e exportador mundial do grão, de acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Em 2010, o Brasil produziu 48,1 milhões de sacas e a previsão para 2011 é de 43,5 milhões de sacas, redução de 9,5% na comparação com o ano anterior, mas que ainda mantém a liderança no cultivo do grão.
Impacto do clima – Os pesquisadores mantêm uma plantação com 35 mil pés de café em Jaguariúna, no interior de São Paulo, onde foram instalados 12 equipamentos, denominados anéis, que vão liberar o gás carbônico nas plantas de acordo com a direção dos ventos. Os grãos testados serão o ubatã e o catuaí-vermelho, este último um dos mais plantados no país.
“Queremos saber o que vai acontecer com a cultura do café em diferentes aspectos. Nós vamos monitorar as alterações dessas plantas que receberam o gás ao longo do tempo. É a primeira vez no mundo que será testada a resistência do café às alterações climáticas”, disse Raquel Ghini, pesquisadora e coordenadora do projeto Climapest, que envolve o Face e outros estudos da Embrapa sobre o efeito das mudanças climáticas na agricultura.
Por um período mínimo de dois anos, serão observados se o solo da plantação foi afetado, se pragas como bicho-mineiro do café (uma larva que se alimenta da folha e causa buracos nela) e a ferrugem foram afetadas ou sofreram mutações genéticas que dificultariam seu combate, além de saber se o período de crescimento se alterou.
“Para chegarmos ao resultado, vamos simular ainda a modificação no sistema de chuva devido ao aumento da temperatura nos próximos anos, conforme previsto pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Por isso, a irrigação dos pés de café também passará por alterações”, explica Raquel. O estudo tem investimentos de R$ 2 milhões, parte proveniente do governo federal.
Fonte: Portal do Agronegócio